estudar para vencer

ZOOLÓGICO DO CIGS

25/04/2020 20:05

Por:

Ercilene do Nascimento Silva de Oliveira

Augusto Fachín Terán

https://ensinodeciencia.cms.webnode.com.br/news/zoologico-do-cigs/

 

 

Entrada do Zoológico do CIGS

A onça pintada (Panthera onca) ostenta o título de maior felino das Américas, tem pelagem amarelo-dourado, pintas na cor preta ao longo do corpo, pode chegar até 135 kg e está no topo da cadeia alimentar (https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/pantanal/nossas_solucoes_no_pantanal/protecao_de_especies_no_pantanal/onca_pintada/). O animal precisa de grande extensão de selva para sobreviver e vive ameaçado de morte pela caça predatória e seu habitat natural é ameaçado pelas queimadas e desmatamento da floresta. Na capital amazonense há um refúgio para esta espécie: é o Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (ZOO CIGS) onde especialistas cuidam e protegem além de onças, outros animais ameaçados de extinção na natureza (https://www.cigs.eb.mil.br/index.php/mistica).

Onça pintada

Onça preta

 

O ZOO-CIGS está localizado na zona oeste de Manaus, no bairro de São Jorge, em região destinada a várias unidades militares, com uma área de 6.000 m² distribuída em densa cobertura florestal (https://www.cigs.eb.mil.br/index.php/zoologico). No ambiente vivem 469 animais dos quais 59 são mamíferos, 33 aves, 107 répteis e 265 peixes. Somados representam 68 espécies da fauna brasileira. E por estar localizado em um fragmento de floresta em meio à área urbana da cidade, eventualmente aparecem na mata ao redor do zoológico outros animais, como preguiças, garças e pica pau.

A biodiversidade está espalhada nas ilhas e gaiolas onde os animais ficam alojados e também em salas especiais destinadas ao serviço de Educação Ambiental. Destaca-se logo na entrada o complexo de aproximadamente 214 m² designado às palestras, pesquisas e recreação, construído após parceria do Centro de Instrução de Guerra na Selva com a Vara Especializada do Meio Ambiente e de Questões Agrárias de Manaus e o Manauara Shopping. O espaço conta com colaboração do Projeto Ocas do Conhecimento Ambiental (OCA) da Secretaria Municipal de Educação de Manaus (SEMED), cujas ações são feitas juntamente com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus (SEMMAS).

A OCA começou a funcionar no Zoológico em 11 de dezembro de 2014, com quatro ambientes de visitação. No primeiro está um auditório com capacidade para 80 pessoas onde são realizadas palestras de introdução às visitas no zoológico e também para ocasiões especiais como o dia do meio ambiente, da água, da fauna, entre outros. No segundo ambiente está uma sala de exposição com trabalhos oriundos de pesquisas desenvolvidas no local. Na terceira sala há uma biblioteca onde é possível participar de um jogo produzido pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em parceria com o ZOO CIGS e por fim, o quarto espaço destinado à sala do conhecimento ambiental, no qual os visitantes podem participar de atividades lúdicas, de jogos e outras interações por meio de objetos, painéis, vídeos e materiais diversos com a temática da preservação  ambiental.

Sala de Educação Ambiental - Projeto OCAS do Conhecimento Ambiental

Sala Entomológica

Próximo ao ambiente da OCA está localizado um aquário no qual habitam nos tanques espécies de peixes divididas em quatro categorias: as ornamentais, de produção, os bagres e os peixes exóticos. Nadam nesses tanques o famoso tambaqui (Colossoma macropomum), o maior peixe de água doce – o pirarucu (Arapaima gigas), o bodó (Hypostomus plecostomus), a pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), acarás bandeira (Pterophyllum scalare), acará disco (Symphysodon spp), dentre outras espécies. Percorrendo um pouco mais em direção ao complexo de visitação é possível ver bem de perto o imponente gavião real (Harpia harpyja), considerado como uma das maiores aves de rapina do mundo e também uma das espécies ameaçadas de extinção pela caça predatória. O gavião real pode medir de 90 a 105 cm de comprimento. O peso tem variações: as fêmeas pesam de 4 a 5 kg e os machos de 7 a 9 kg (https://www.avesderapinabrasil.com/harpia_harpyja.htm). O que impressiona nesta ave é a envergadura das asas que chega a atingir impressionantes 2 metros (https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/FichasAnimaisRebio-3.pdf). Esta águia é monogâmico e o ninho é construído no topo de árvores emergentes. Andando um pouco mais pelas trilhas do local é possível encontrar a anta (Tapirus terrestris), o maior mamífero brasileiro com o seu soberbo 1,70 m e peso de quase 300 kg. A espécie tem importante papel na natureza por ser uma dispersora de sementes. O jacaré açu (Melanosuchus niger) é outro morador do Jardim Zoológico (https://www.icmbio.gov.br/revistaeletronica/index.php/BioBR/article/view/406/3140). Este réptil que pode viver até 80 anos, chama a atenção pelo porte grandioso. E ainda atraem a atenção do público várias espécies de primatas da fauna amazônica, moradores de uma ilha central isolados pela água.

Peixe Tambaqui

Peixe Pirarucu

Gavião Real

Jacaré Açu

 

O zoológico abre de terça a sexta no horário das 09h às 16h30; sábados, domingos e feriados de 09h às 17h. Os valores de entrada praticados em 2020 para moradores do Amazonas são de R$ 7,50. Visitantes de outros estados pagam R$ 15,00. A meia entrada é concedida a estudantes com a apresentação de um documento de identidade estudantil. São isentos da taxa de visitação as crianças até 12 anos, os idosos, os portadores de necessidades especiais, os militares e seus dependentes. A inauguração do zoológico ocorreu em março de 1967 e ao longo destes 52 anos, esta instituição vem se dedicando à pesquisa científica com estudos da conservação e reprodução das espécies habitantes do local e ainda a Educação Ambiental por meio de visitação.

De acordo com levantamento da administração da unidade, visitam anualmente o espaço em torno de 140.000 pessoas. A metade do contingente que conhece o local é formada por alunos de escolas de Manaus. Na prática, as temáticas de conservação e preservação ambiental vivenciadas no zoológico são associadas aos conteúdos curriculares das instituições de ensino.

A educação ambiental está prevista na Política Nacional de Educação Ambiental na Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm). Em seu artigo 2º está descrito: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (https://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf) o tema transversal relacionado ao meio ambiente é apresentado com o propósito de ajudar na formação de pessoas mais conscientes, capazes de tomar decisões sobre situações socioambientais na realidade em que vivem.

Ilha dos macacos

Jabutis

Por todo o potencial pedagógico que o ZOO CIGS apresenta para estudos de Educação Ambiental ele também é um dos ambientes de investigação científica do Grupo de Estudo e Pesquisa de Educação em Ciências em Espaços Não Formais (GEPECENF, https://ensinodeciencia.webnode.com.br/) vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Em um dos trabalhos realizados, Maciel e Fachín-Terán (2014) detalham a tarefa desenvolvida pelo zoológico com o intuito de zelar pela preservação e manutenção da biologia dos animais presentes no local. Em outro estudo, Araújo et al. (2013) desvendam o quanto este espaço não formal promove o ensino de zoologia no contexto amazônico. Os autores destacam ser possível trabalhar diversos temas de forma lúdica e prazerosa, e exemplificam o estudo de animais em cativeiro, flora e fauna amazônica, preservação e conservação da fauna silvestre, morfologia e fisiologia (ARAÚJO et al. 2013, p. 209).

Há vários artigos descrevendo pesquisas ambientadas no ZOO CIGS. Dentre eles estão “O jardim zoológico do CIGS: um espaço estratégico para despertar a sensibilização ambiental” (https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/reamec/article/view/8724) dos autores Silva, Santos e Fachín-Terán (2019) e que objetivou demonstrar o potencial do espaço para o estudo com as diversas espécies ameaçadas de extinção presentes no local. A pesquisa demonstra formas para despertar nas pessoas, durante uma visita, o sentimento de cuidado, de afeto, de amor, de respeito e de pertencimento com o meio ambiente. Em outro estudo, intitulado “O uso do jardim zoológico do CIGS para o ensino de Ciências” (https://periodicos.cfs.ifmt.edu.br/periodicos/index.php/rpd/article/view/524) os autores sinalizaram formas de trabalhar o ensino de Ciências na unidade. A biodiversidade presente no local possibilita práticas educativas diversas e algumas delas foram apresentadas neste estudo mediante a metodologia de visita com observação da biodiversidade em paradas estratégicas com o repasse de informações e o olhar reflexivo e crítico dos participantes da dinâmica.

Estudantes realizando observações 

Estudantes na sala de Educação Ambiental

Outras possibilidades relevadas por pesquisadores do GEPECENF foram apresentadas no estudo “Alfabetização científica no primeiro ano do ensino fundamental usando o tema da cadeia alimentar” produzido por Aguiar e Fachín-Terán (2017) no qual avaliaram as contribuições para o processo formativo dos estudantes desta etapa da educação básica tendo como facilitador no estudo a espécie do gavião real e sua cadeia alimentar. Os estudantes observaram o animal que habita no ZOO CIGS proporcionando a associação do conteúdo teórico com a prática possível de conciliar no local.

A pesquisadora Martha Marandino tem estudado a capacidade pedagógica dos espaços não formais. Cita a autora como é possível motivar, desenvolver atividades, estabelecer diálogos e interações entre grupos nesses espaços dedicados as ciências. Museus, bosques e zoológicos, segundo a estudiosa, podem proporcionar momentos de deleite, lazer e aprendizado. É necessário a quem vai conduzir este momento de interação, mediar a visita com orientações pontuais. E isso pode ser feito por meio de materiais impressos, informações repassadas por guias e atividades diversas (MARANDINO, 2016, p. 9). O estudioso Pedro Demo em muitas de suas argumentações sobre a alfabetização científica ressalta a necessidade de se produzir o conhecimento científico por meio do exercício educativo e para isso é necessário conjugar método e cidadania (DEMO, 2010, p. 19). E são estas possibilidades de associação de metodologias e vivências com elementos da fauna e flora amazônicos que as pesquisas do GEPECENF ofertam para educadores e público em geral que deseja saber mais sobre como ensinar e aprender Ciências em ambientes educativos diversos.

 

Referências:

AGUIAR, Lívia Amanda Andrade de. O estudo da cadeia alimentar como facilitador da alfabetização científica em crianças do 1º ano do Ensino Fundamental Dissertação (Mestrado Acadêmico em Educação em Ciências na Amazônia) - Universidade do Estado do Amazonas. Orientador: Profº. Dr. Augusto Fachín Terán. Manaus: UEA, 2017.

 

ARAÚJO et al. Zoológico do CIGS: um espaço não formal para a promoção do ensino de zoologia no contexto amazônico. In FACHIN-TERAN, A; SEIFFERT SANTOS, S. Novas perspectivas de ensino de ciências em espaços não formais. Pp. 198-210. Manaus: UEA edições, 2013.

 

DEMO, Pedro. Educação e Alfabetização científica. Campinas, SP; Papirus, 2010 – (Coleção Papirus Educação).

 

MACIEL, Hileia Monteiro; FACHÍN-TERÁN, Augusto. O potencial pedagógico dos espaços não formais da cidade de Manaus. Curitiba, PR: CRV, 2014. 128p.

 

MARANDINO, Martha et al. (Org.). A Educação em Museus e os Materiais Educativos. São Paulo: GEENF/USP, 2016. 48 p. + anexos.

 

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